Resenha do livro Fahrenheit 451


    Não é de hoje que as distopias trazem ânsias reais. A história que se passa no livro Fahrenheit 451, de Ruy Bradbury, trata de uma ânsia pela felicidade. Mas como a queima obrigatória de tantos livros pode demonstrar tal vontade? Cada livro tira um pedaço do longo caminho para a alegria “eterna”. Livros nos fazem chorar, refletir, agir… Tais emoções necessariamente humanas são perigosas para o equilíbrio das nossas vidas. Se fossemos isentos de tais sentimentos, não poderíamos simplesmente viver o agora? Viver de forma insossa sem precupações de tomar grandes decisões e sofrer com elas. O futuro que se passa no livro não é de todo um futuro. Muitos fragmentos são vistos hoje. Vamos para alguns deles.
   O primeiro trata-se do uso de ansiolíticos. Quando Mildred (retrato fiel da abordagem acima) usa pípulas em excesso para dormir, está reafirmando que existe uma tristeza mascarada diante de tal sociedade. Embora o cotidiano seja resumido a trabalhar e receber informações manipuladoras por meio de radioconchas e televisão, nada disso a faz descansar tranquilamente. E isto, nem ela percebe. 
    Outro fragmento acabou de ser comentado: a manipulação pela mídia. Sabemos que isto acontece o tempo inteiro e que cada vez mais as pessoas preferem gastar seu tempo com coisas engraçadas e desnecessárias nas redes sociais. E claro, receber esse tipo de informação está tomando o lugar de informações relevantes e abordadas por profissionais de longa data. O que fazemos hoje ao debater de igual para igual com um especialista de alguma área, nada mais é do que a mesma situação ao queimar livros de especialistas expondo seu conteúdo para nós. Isso não é, da mesma forma, negar tais conhecimentos? Claro que na atualidade existe a diferença da vontade pelo debate e especificadamente de vencê-lo. Já em Fahrenheit 451 as pessoas não querem tocar em qualquer assunto reflexivo.
    Algo que também não está muito longe do nosso futuro são figuras como o sabujo. Diante do estudo de robôs e modificações genéticas, alguma figura sobre-humana auxiliará exércitos e milícias. Mesmo vivenciando tantas manifestações desastrosas ao seu redor, Montag obteve tudo que precisava: a dúvida. Após conhecer Clarisse, questões não pararam de surgir e com elas, o desejo pelas respostas. E foi essa busca pelas respostas e a intuição que os livros eram proveitosos, que ele reinventou sua vida. Ao final, conheceu homens tão corajosos quanto ele. E a esperança, outra característica humana, fortaleceu-se ainda mais em Montag, que junto com aquele grupo, decidiu abrir os olhos de outros.

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